4 meses no Canada
Eu me deparo com números a todo momento, datas. Quando estamos em
casa as semanas passam e nem vemos o ano passar. Vivemos presos a uma rotina
que muitas vezes faz com que não vivamos nem metade do que podemos viver.
Esta semana, eu estava na minha aula de leitura e uma moça da Itália
falou para a sala inteira que na vida dela, na Itália ela se deparava com uma
rotina faculdade, amigos, família e que em Vancouver ela conseguiu parar e
pensar mais no que é viver. Então ela parou e descreveu que ela decidiu levar a
vida dela de uma forma diferente... Ela acabou de se formar, em um curso o qual
ela afirma não ser o que ela quer pra vida toda, e disse que estava perdida
quando veio morar aqui, pensando “o que farei na minha vida? Com o que quero
trabalhar”. Mas depois de dois meses morando aqui ela parou de pensar assim e
resolveu olhar as coisas sob uma perspectiva diferente: “agradecer a Deus, ou a
qualquer força superior que vocês acreditem, e acordar e pensar que é bom estar
vivo, é bom ter esta oportunidade de morar fora do país, e se estiver
chovendo... E daí? Você não tem nenhum problema no seu corpo, e criando
fantasmas e estereótipos na nossa cabeça nós só estamos perdendo o que a vida
nos oferece de melhor: escolhas, chances, saúde”. Quando eu ouvi o depoimento
dela, claro que não me lembrei de tudo – e por mais que possa ser algo que
vocês já tenham ouvido ou falado, quando você se coloca no meu lugar, longe das
pessoas que eu mais amo na minha vida e está se sentindo fraco, estas palavras
confortam... Parecem um anjo suspirando no seu ouvido para que tenha força!
Deus está com você! – voltando... quando eu ouvi eu aplaudi, com força! Foi a
minha reação instantânea.
Antes de mais nada, agradeço ao meu bom Deus por estar viva, por estar
aqui, por ser feliz, por ter saúde! Depois agradeço meus pais, pelo suporte,
pela alegria transmitidas na ligações – e eu sei que vocês sofrem sem mim, mas
é muito bom terminar meu dia sabendo que mesmo com saudades vocês estão bem.
Vocês me dão forças para lutar, pra seguir em frente, pra sorrir! E não quero
que pensem que minha vida aqui é de sofrimento, mas também não estou aqui pra
enganar ninguém falando que é só alegria. Ninguém falou que ia ser fácil!
Quatro meses... eu nem tenho palavras pra descrever isso! Caramba! Sério que eu
sou forte pra ficar 4 meses longe de quem eu amo?
Esta pergunta é retórica. E me faz seguir em frente, me faz sonhar.
E me faz repensar em muita coisa na minha vida! Uma delas é a minha carreira.
Algumas pessoas nascem com dons, outras descobrem o que elas querem fazer com o
tempo. E eu sou o número dois, até que se prove o contrário! Achei que o curso
de direito era o meu sonho, quando comecei a viver ele, caí muitas vezes e
também ganhei bastante conhecimento, mas antes de vir viajar eu não estava
muito contente... Principalmente depois de trabalhar na área, tive que
trabalhar um pouco com cada ramo que o direito oferece e infelizmente não me vi
advogada, juíza, promotora, defensora. Achei que estava enfadada com o stress e
que o problema era que minha cabeça estava focada na viagem. Mas depois de
quatro meses aqui, olhando alguns textos que meus amigos colocam no facebook e
pensando mais fundo, pesando, eu sei o que eu não quero pra minha vida.
Quando falei o que eu não me vi fazendo pro resto da minha vida,
tiveram algumas coisas que eu vi: uma delas foi professora, a outra foi
psicóloga assistente de juiz, e a última foi empreendedora. Mas eu tenho que
confessar que estou com medo, decidir o que você quer não é uma tarefa fácil,
tendo 17 ou 30 anos. Quantas pessoas trabalham com o que elas não gostam só por
dinheiro? Quantas pessoas trabalham com o que gostam mesmo ganhando pouco?
Quando criança eu era líder, cheia de ideias, segura, e uma criança
que assumia os riscos que corria com determinadas decisões.
Quando adolescente eu era uma das líderes, cheia de ideias, mais
insegura, mas ainda assumia os riscos que corria com decisões que quase sempre
eram imaturas, e eu caia mas sempre tinha meus pais pra me acolherem.
Hoje, sou adulta, ainda tenho resquícios da minha adolescência, mas
estou aprendendo a lidar com esta nova vida. E o intercâmbio está me ajudando
muito! Eu não tenho ninguém pra dizer se o que faço é certo ou errado, ou pra
me dar bronca. Mas eu tenho uma coisa em mim: eu fui líder e eu sou líder – não
dos outros, mas de mim mesma! Sempre quis ser a melhor em tudo o que fazia,
mesmo que não fosse o que a maioria queria fazer, e com isso aprendi que não é
necessário seguir a maioria para ser feliz. E eu continuo cheia de ideias, mas
tomar a decisão “carreira” faz-me sentir insegura! E com medo de assumir
riscos...
A realidade do nosso país é medicina, arquitetura e direito. Estereótipos!
Se você não pertence a uma dessas profissões em certo ponto da sua vida será
questionado ou humilhado. Mas eu quero ser a melhor no que faço, e fazer o que
me faz feliz, mesmo que não me traga muito dinheiro. Como dizem sábios
empreendedores e homens de sucesso: “se você faz o que gosta, dinheiro é
consequência!”, assim espero! Mas não me decidi o que quero.
Professor no Brasil vive com um mísero salário, principalmente se
for pra trabalhar com crianças – área que me instiga muito. Tenho duas paixões:
português e inglês. Eu me sinto à vontade, e escrever me faz expressar meus sentimentos
mais fácil! Gostaria muito de ser professora de português e inglês. Mas e o
medo de correr o risco de morrer de fome?
Psicólogo no Brasil ou faz concurso; começa do zero numa clínica com
muita persistência e disposição; trabalha em escolas, hospitais; ou trabalha
como assistente de juiz/perito. Gosto muito da ideia de ter uma clínica, mas
quero mais do que isso... Concurso pra perito ou assistente de juiz. Estudei
isso na faculdade de direito e é um trabalho muito interessante! Ajuda o juiz a
decidir, dá assistência e suporte à família e faz com que o direito funcione de
forma mais justa.
Na área
empreendedora eu penso que seria muito legal ter meu próprio negócio, roupas,
acessórios, qualquer coisa me faria feliz. Mas é uma carreira que é complicada
escolher um curso pra isso, uma vez que eu não sou nem um pouco boa em
matemática. E todos os cursos que eu penso envolvem matemática financeira, que
me dá alergia, coceira só de pensar! rsrs!
Bom, depois de
tudo isso eu digo… é triste me sentir perdida, uma vez que pela primeira vez me
deparo com uma situação que não sei como lidar, não estou preparada e não tenho
uma carta na manga! É estranho, mas ao mesmo tempo eu penso que isso é algo
muito bom, eu costumava ser sabe tudo, muito segura, e as vezes precisamos ter
nossas fraquezas. E sou feliz por sentir vontade de trabalhar, e com o tempo
descobrir o que é melhor pra mim!
Esta viagem me
completou. Fez-me encontrar-me com mim mesma, admitir minhas fraquezas,
trabalhar nelas, sozinha. E ao mesmo tempo me fez valorizar o que eu tinha, com
meus pais eu aprendi que sempre vão estar ali para mim se eu cair, mas que eu
também posso me levantar sozinha. E desta vez eu quero ouvir o que eles tem pra
me dizer sobre isso, mas ser capaz de lutar pela minha escolha!
Mais uma vez,
obrigada por esta viagem! Quatro meses de muitas coisas inesquecíveis e
conquistas inexplicáveis! Muito bom sorrir, decidir, ser forte, tentar, falhar,
cair, levantar…VIVER!
E o importante,
como diz minha amiga é agradecer por estar vivo, não ter pressa pra viver,
decidir!
Feliz 4 meses
pra mim! :D